segunda-feira, 8 de agosto de 2016

FRENTE DE BATALHA 2 - Fazendo Linguiças - 9

FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Fazendo Linguiças – Parte II da Trilogia.
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma.
Por Marcos De Chiara



            PARTE NOVE

Quadrante Gamma – Um dia depois

         A Azimute a Zênite, as duas naves auxiliares tipo IX da Albedo, estavam prontas para serem lançadas.
         Os times de assalto já estavam prontos também. Apenas aguardavam a ordem de partida da ponte. Enquanto isso não acontecia estavam revisando os dados da missão na cartografia estelar.
         - Sensores, Brixx? – solicitou Alkon ao seu novo oficial tático.
         - Nada nos sensores num raio de um ano-luz. A exceção da USS Protheus.
         - Informe à capitão Sobieski para manter posição. Mensagem criptografada emitindo radiação de fundo. Cortar comunicação logo depois e restabelecer daqui a cento e vinte horas. Sleek...Rume para a nebulosa NG 101 nas coordenadas 085 marco dois. Dobra oito em cinco minutos.
         - Ssimm, ssenhor! Cursso implementado. Chegada programada em  quatorze horasss, vinte nove minutosss e quarenta e cinco segundosss.
         - Excelente. Baia Dois?
         <Chefe Dillinger a postos, capitão!>
         - Quero as naves prontas para partir assim que chegarmos na nebulosa. Alkon desliga.
         <Sim, senhor!>
         - Sleek transfira nossas futuras coordenadas para as naves auxiliares. Alerta amarelo.
         A USS Albedo rumou para o seu esconderijo no espaço: a nebulosa Jenkata ou NG 101 como a Frota a designara.
        
Cartografia Estelar – Deque Cinco

         - A Albedo ficará escondida aqui até que terminemos a missão. A Protheus ficará patrulhando o perímetro. Se naves de guerra Jem´Hadar aparecerem ela deverá atraí-las para longe do esconderijo da Albedo garantindo assim um retorno seguro para nós. – explicava Klag aos seus companheiros enquanto na tela principal era mostrada o cenário onde iriam atuar.
         - Mas enquanto a Albedo estiver dentro da nebulosa ela não poderá saber se, do lado de fora, existem naves de patrulha, pois os sensores estarão inoperantes. – lembra Allison.
         - Já havia calculado isso. Inventei um brinquedinho que a equipe da engenharia deve estar finalizando agora. Não se preocupe. – disse McCormick enigmaticamente.
         - A camuflagem holográfica nos acobertará até a chegada neste planeta. Ele é classe M e a área de pouso fica numa densa floresta do tipo tropical, sujeita a fortes chuvas nesta época. Emissores holográficos pessoais não ficarão prontos a tempo, então recorreremos à maquiagem.
         - Vamos virar Jem´Hadares? – diz Gilbert preocupado.
         - Não posso dizer que estou ansioso por isso também, alferes, mas será o melhor para a nossa infiltração. – responde Klag.
         - Não gosto de usar essas coisas. Estraga a minha pele. – reclama Allison.
         -Temos maiores preocupações do que a ação dos cosméticos que usaremos. – bronqueia Klag.
         - Desculpe. – diz Allison meio sem graça.
         - Eu, Siro e Vulpes iremos na frente. Vocês ficarão na retaguarda garantindo um caminho livre pro nosso retorno. Se algo der errado conosco, vocês devem terminar a missão. Entendido?
         - Perfeitamente. – respondem os demais.
         - Dispensados. Nos encontraremos amanhã às seis horas no hangar dois.
         - Sim senhor.
         Allison antes de sair olha para o klingon e ele retorna o olhar como que dizendo “Não se preocupe. Tudo dará certo”.Aquela troca de olhares estava incomodando muito McCormick.

Na manhã seguinte, na ponte...

         Uma ordenança, alferes Dalila Madson, serve café para o pessoal de plantão na ponte. O capitão agradece com um sorriso.
         - Chegamos na nebulosa, senhor. Sensores inoperantes. Temos flutuação nos escudos. Estão em noventa e um por cento e caindo. – informa Brixx.
         - Parada total. Cortar energia principal. Desviar energia secundária para os escudos.
         - Senhor.Permissão para falar. – solicita o oficial boliano.
         - Permissão concedida.
         - Com os sensores inoperantes não ficaremos vulneráveis? Não saberemos o que ocorre lá fora. Se por acaso quando sairmos dermos de cara com naves Jem´Hadar?
         - É por isso que vamos testar uma invenção do Sr. McCormick. – dizendo isto a imediato Naomi entra na ponte fazendo sinal de positivo para o capitão. Ela esteve supervisionando a construção da invenção do oficial de ciências.
         - Acho melhor testá-la logo enquanto as coisas estão calmas. – diz Naomi assim que se senta.
         - Muito bem. Sala de torpedos?
         -< Chefe de artilharia Murdock falando, senhor.>
         - A sonda sensora está pronta?
         -<Pronta para o lançamento. É só mandar, senhor.
         - Obrigado. Aguarde.
         - Chefe Dillinger informa que as naves estão prontas para partir. Todo o pessoal está embarcado. Hologramas funcionais. – diz Zagar.
         - Mande soltar nossos passarinhos. Senhor Brixx...Qual a distância entre a nave e a borda da nebulosa?
         - Vinte e cinco mil quilômetros.
         - Se diminuirmos a distância em dez mil quilômetros poderíamos aumentar a capacidade da recepção dos sensores da sonda. Você acha que assim poderíamos ser detectados pelas naves inimigas?
         - Não há como ter certeza, senhor. Não temos conhecimento de como funcionam os sensores das naves Jem´Hadar.
         - Vamos especular, tenente... – pede Alkon que o boliano tenha um pensamento mais livre.
         - É possível que não, senhor. A atividade eletromagnética no interior da nuvem é bem forte.
         Alkon levantou-se e caminhou até o leme. Observou os controles e voltou-se para o tenente Brixx para explicar o plano que desenvolvera com Klag e McCormick.
         - É o seguinte, senhor Brixx, vamos improvisar um periscópio.
         - Periscópio, senhor? – Brixx não estava entendendo aonde o capitão queria chegar. Estava um pouco aborrecido de ter sido deixado de fora do planejamento tático da missão e só estar sendo informado na última hora.
         - Nossos sensores estarão debilitados enquanto estivermos dentro da nebulosa. Devo admitir que o raio trator sofreria de interferência também, correto?
         - Sim senhor, mas...- Brixx continuava no escuro.
         - Vamos lançar uma sonda sensora que ficará lá fora próxima a borda da nebulosa e ataremos à ela um cabo. De tempos em tempos a emergiremos da nebulosa para sondar a aproximação inimiga. Isto nos dará uma vantagem tática. Sendo a sonda muito pequena será de difícil detecção por eles. O que acha tenente?
         - Apesar de não ter sido consultado anteriormente, creio que é um plano arrojado que poderá dar certo.
         - Este assunto havia sido discutido antes de você ser colocado neste posto. Mas o estou informando agora. Alguma objeção?
         - Não senhor. – respondeu o boliano seriamente. Alkon podia sentir a raiva emanando dele.
         - Gostaria que o senhor coordenasse esta tarefa. Se sente capaz disso?
         - Sim, senhor.
         - Ótimo. Já temos com o que passar o tempo. Sleek reduza a distância entre nós e a borda da nebulosa em dez mil quilômetros; depois parada total. Naomi a ponte é sua. Quando a sonda obtiver os primeiros dados, me avise. Estarei em meu escritório.
         - Afirmativo, senhor. – respondeu a imediato.
         Alkon se retira sentindo ainda uma animosidade vindo do boliano. Depois de tanto tempo não conseguira se aproximar daquele rapaz, nem de obter sua simpatia ou diminuir o seu rancor. Depois de tanto tempo ele ainda não se conformava da morte de seu primo. Um dia destes eles teriam que conversar sobre isso.
        
         A bordo da Zênite, que como a sua nave-irmã, estava camuflada holograficamente como um caça Jem´Hadar; Allison conversava com seus companheiros de viagem. Ela já estava sentindo coceira da pele artificial em seu rosto.
         - Ei, pessoal, vamos abrir a boca um pouco. Eu já estou tensa e com uma vontade enorme de me coçar. Contem uma piada ou cantem uma canção. Pelo amor de Deus!
         - Estou me ocupando dos sensores Ally. Além do mais a minha voz não é muito boa. – explicou-se McCormick.
         - Eu estou checando nosso armamento e provisões. – justificou-se Gilbert.
         - Pela décima vez? Deixe isso pra lá Gil! – reclamou Allison.
         - O que eu posso fazer? Sou perfeccionista. – explica-se o alferes.
         - É só perguntar ao “Senhor Memória” que ele te diz tudo o que temos a bordo. Inclusive onda há cada parafuso nas junções de encaixe das placas de revestimento do casco da nave. Não é Doug? - brincou Allison com o namorado.
         - As naves auxiliares não têm parafusos nas placas de revestimento. – diz McCormick corrigindo a piloto.
         - O inventário, tenente. O inventário... – provoca Allison.
         - Três roupas espaciais com botas magnéticas e coletes propulsores, caso  precisemos sair da nave quando estivermos no espaço. Kit médico padrão da Frota bem como ração para três dias. Um tricorder médico e um para análises de campo. Três vestes termorreguláveis com recicladores de fluidos corporais para ambientes hostis. Três máscaras de gás. Armamento: Três rifles-phasers tipo IV com 3 recarregadores para três mil disparos. Três pistolas phaser tipo II, três cintos com granadas dos tipos F[1],G,L e S. Um traje isolante para incursões invisíveis, se necessário... – McCormick começou a falar sem parar.
         - Tá bom! Tá bom! Chega. Eu vou ficar quieto. – se rendeu Gilbert. – Eu também estou nervoso. Só tentava matar o tempo. E você Mac? Não faz nada para se distrair?
         - Claro. Eu estou me distraindo. – responde sem delongas.
         - Como? Vendo a tela dos sensores a cada cinco segundos? – pergunta debochadamente o alferes.
         - Isto, jogando xadrez tridimensional, cantando a minha música preferida e refazendo algumas fórmulas de uns experimentos que deixei à bordo da Albedo. – revela na maior simplicidade.
         Allison e Gilbert olham espantados para o colega.
         - Você está brincando, não é? – pergunta Allison sem acreditar no que acabara de ouvir.
         - Como isto é possível? – Gilbert ainda não acreditava no colega.
         - Mentalmente. – explica o ruivo marciano.
         O espanto foi maior ainda. Sabiam da capacidade de memória de McCormick. Só não sabia que chegava à tanto.
         - Às vezes eu acho que você tira sarro com a nossa cara Mac. – Gilbert não havia se convencido da explicação do colega.
         - Talvez sim, talvez não. Quem sabe? – diz sorrindo McCormick. Allison lhe dá um cutucão.
         - Quanto tempo falta para chegarmos ao tal planeta, Allison? – pergunta Gilbert mudando de assunto.
         - De acordo com as informações passadas pelo capitão Alkon, estaremos lá em duas horas. Naomi melhorou os projetores holográficos aumentando sua durabilidade para oito horas.
- Vamos repassar o plano? – pergunta McCormick – Quero ver se vocês também tem uma boa memória.
- Deixa comigo. – disse Allison prontamente - Pousaremos a quinhentos metros da  Azimute e seguiremos separados até uma aldeia em um sopé de uma montanha. Lá Mac deverá usar o traje de isolamento para sondar o terreno. Vulpes fará o mesmo, pelo seu grupo, só que usando a sua capacidade de camuflagem natural. Depois Klag entrará na vila e se informará para achar o nosso contato. Ficaremos na retaguarda garantindo um caminho livre para o retorno. Se existir muitas patrulhas no local deveremos criar distrações. Depois de decolarmos temos até três horas para voltarmos até o ponto de encontro com a  Albedo. Se as coisas ficarem feias a USS Protheus atrairá o fogo inimigo.
- Parabéns! – exclama McCormick e presenteando-a com um beijo. Gilbert fica constrangido.
- É...Acho que então vou tirar um cochilo. – comenta o jovem alferes.
- Pode ir. Quando chegarmos você saberá. A entrada na atmosfera não será suave. – informa Allison.
Sem maiores problemas as duas naves continuaram seu caminho rumo ao desconhecido.



[1] Granada do tipo F – Fragmentação, grande poder de destruição; tipo G – de gás; tipo L – luminosa, contém um flash cegante e tipo S – sônica, que pode ser regulada para diversas freqüências auditivas.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

FB 2 - Fazendo Linguiças - 8


FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Fazendo Linguiças – Parte II da Trilogia.
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma.
Por Marcos De Chiara



              PARTE OITO

       O capitão Dorian Alkon reunira sua equipe de comando para passar alguns informes na sala de conferência da Albedo.
         - O almirante Petersen  foi chamado de volta à Terra e não está mais no comando. Respondemos agora ao almirante Ross. Outra novidade... Houve um atentado na Terra durante uma reunião de cúpula entre a Federação e o império romulano. Agentes transmorfos estavam atuando na Terra. O capitão Sisko e o comissário Odo da DS9 conseguiram descobrir pelo menos um dos sabotadores e este estava assumindo a forma do C.OP. da Frota.
         - O almirante Leyton? – indagou Naomi surpresa.
         - Exatamente. A Frota não sabe por quanto tempo ele esteve agindo usando esta forma, mas desconfiam que ele pode ter sido responsável pela missão da USS Babel e da nossa atual condição. – explicou o capitão.
         - Então estamos liberados? Voltaremos ao serviço normal? – perguntou Zagar de uma forma dissimulada para que não percebessem que muito do que foi falado não era uma novidade para ele.
         - Não. O alto comando acha que se a idéia da criação de uma força tática com o nosso poder bélico foi idéia do Dominion então poderão usar o feitiço contra o feiticeiro. – esclareceu Alkon. Allison e Klag trocaram olhares. A informação de Zagar estava correta. McCormick achou aquele comportamento estranho.
         - Mas como iremos ter certeza de quem está puxando as cordas? – reclama McCormick.
         - Não saberemos. – disse Alkon um pouco pesaroso.
         - Mas e a nossa missão? Poderemos estar sendo enviados para uma armadilha. – conclui Klag.
         - É uma possibilidade que teremos que encarar. As nossas ordens são para prosseguirmos com a missão e descobrir tudo o que pudermos para usar contra o Dominion.
         - Mas se tudo for uma farsa? Eles estariam nos dando informações falsas. – supõe Allison.
         - Caberá a nós separar o joio do trigo. – disse o capitão fatidicamente.
         - A questão é...Seremos capazes? – fala a Dra. T´Vel sem ser muito otimista.
         - Assim espero. Confio em vocês. E vocês terão que confiar um no outro. – Alkon parecia ser a única voz otimista na sala.
         - Não parece ser o suficiente. – reclamou Klag.
         - Eu sei. Exames de sangue podem revelar quem é ou não transmorfo, então estamos todos convocados para exames de rotina. Isto será feito aleatoriamente e com certa freqüência. O corpo de engenheiros da Frota está estudando uma maneira mais rápida e eficaz de realizar esta identificação. Mandaram uma sugestão para que estudássemos. – Alkon pega um pad com as informações.
         - Pode deixar comigo capitão. – Naomi logo se oferece para executar a tarefa.
         - Não, tenente. Você terá uma outra ocupação. Isto ficará a cargo da Tenente Rivera que a partir de agora assumirá a engenharia. Você foi promovida, interinamente, a primeiro oficial. Parabéns. – Alkon não estava muito confortável em nomeá-la e isto era visível.
         - Mas capitão eu... – Naomi tentou protestar.
         - Você é minha segunda oficial e na impossibilidade da comandante Okaido assumir o seu posto no momento, você é a mais qualificada. Alguma objeção? Não se sente apta para o serviço?
         - Não é isso...É que durante todo este tempo nós não nomeamos um primeiro oficial e eu pensei...
         - Uma falha minha. Ninguém é insubstituível. Eu, mais do que ninguém, deveria saber disso. Esta lacuna no comando já deveria ter sido preenchida há tempos.
         - Quando iremos? – indagou Klag interrompendo a discussão.
         - Amanhã. Assim que a USS Protheus chegar. Ela nos dará suporte na missão caso haja mesmo uma armadilha nos esperando. É a mais moderna nave de guerra da Frota. Com o dispositivo multi-vetor de ataque. – acrescenta Alkon às informações anteriores.
         - Multi-vetor? – Klag fica curioso.
         - A nave poderá se dividir em três quando em combate. Isto surpreenderá o inimigo e o confundirá. – explica Naomi. Seus colegas ficaram surpresos por ela saber todas aquelas informações. Inclusive o capitão. Naomi tratou logo de se explicar. – O quê? Eu tive acesso a dados secretos quando reformamos a Albedo. Eu sabia que estavam construindo algo assim. Vai ser interessante vê-la em ação.
         - Esperemos não precisar. – disse o capitão retomando a palavra. – Ainda temos mais uma situação delicada com a qual lidar. O império klingon quebrou o tratado de Kithomer porque a Federação se negou em ajudá-los atacar Cardássia. Eles julgam que transmorfos tomaram o governo cardassiano. Uma pequena batalha foi travada em DS9 por conta disso. Nossas relações estão cortadas e teremos patrulhas klingons com as quais nos preocupar lá fora. Tenente Klag...Você está suspenso de suas funções temporariamente. Deverá ficar confinado em seu alojamento até segunda ordem.
Houve um burburinho na sala de protestos. Klag limitou-se a grunhir baixo e ficar com uma cara mais carrancuda do que o habitual. Imediato você ficará responsável de repassar as informações relevantes para os demais tripulantes. Detalhes da missão só receberemos quando partirmos. Dispensados.
         Os oficiais se levantam comentando sobre o que acabaram de ouvir. Allison ao passar pelo seu amigo tenta confortá-lo com um tapinha nas costas. McCormick fica achando que ela se preocupava demais com o klingon.  Todos saem da sala. Naomi aproveita e se aproxima de Klag.
         - Preciso falar com você.
         - Pois não, imediato.
         Naomi ficou surpresa em ter sido chamada de imediato. Era algo com o que teria que se acostumar. Esperou que todos saíssem do auditório e comentou.
         - Tenho registros de suas comunicações com o “mundo exterior”. O que pensa que está fazendo?
         - Como você...?
         - Sou especialista em mensagens criptografadas. É meu dever monitorar as mensagens durantes as varreduras dos sistemas. Questão de segurança. Você sabe bem o que é isso. Pode ter enganado Zagar, mas não a mim. Com quem você falava?
         - Isto é uma questão pessoal, comandante.
         - Vai ser sua corte marcial se eu levar isso ao conhecimento do capitão. Afinal VOCÊ é um inimigo agora também.
         - Então seria melhor colocar-me na detenção. – retrucou.
         - Não seja cabeça dura, Klag. Estou mostrando um pouco de boa vontade aqui, você poderia fazer o mesmo.
         O klingon respirou fundo. Depois de tudo que passaram juntos ele deveria poder confiar mais em seus camaradas.
         - Queria descobrir informações sobre a minha família.
         - Você entrou em contato com eles?
         - Não. Um grande amigo manteve o nosso segredo. Me mandou apenas as informações que necessitava.
         - Sabe que isso pode ser interpretado como espionagem no atual estado das coisas.
         - A senhora vai me prender?
         - Não seja estúpido. Você fez apenas o que todos nós tínhamos vontade de fazer durante todos estes meses. Não posso culpá-lo. Se você fosse um inimigo já teria nos causado mal há muito tempo.
         - Existem métodos de infiltração onde um agente fica aguardando meses e até anos para agir.
         - Você está me dizendo que é um agente infiltrado?
         - Se fosse acha que confessaria?
         - Deixe de bobagens. Você está me deixando confusa com toda esta história. Só quero que prometa não mais se utilizar do sistema de comunicações desta forma. Se começarmos a abrir precedentes nossa “camuflagem” já era.
         - Já obtive a informação que precisava. As comunicações com o “mundo exterior” não mais ocorrerão.
         - Agradeço. Escute Klag. Sei que está com raiva por ter sido afastado, mas não desconte em mim. Creio que posso interceder a seu favor junto ao capitão.
         - Um guerreiro klingon luta as suas próprias batalhas. – replicou com rispidez.
         - Você não é mais um guerreiro klingon. É um oficial da Frota Estelar que mostrou seu valor em inúmeras ocasiões e isto deverá ser levado em conta. Dispensado. – Naomi sabia se impor também quando necessário.
         Klag a cumprimentou com um menear de cabeça e saiu.
         Naomi viu o que a imediato da nave deveria ser. Uma ocupação nada fácil. Resolveu ir atrás do capitão para discutir a situação de Klag. Eles não poderiam abandonar um companheiro neste momento.

Momentos depois no escritório do capitão....

         Naomi entrou assim que a porta lhe foi aberta.
         - Posso falar um minuto com o senhor, capitão?
         Alkon estava sentado, tranqüilo, tomando uma caneca de café e lendo alguma coisa em um pad.
         - Sim...?
         - É sobre Klag, eu...
         - Você quer pedir para que ele continue no time. Eu sei. Por que você acha que eu o deixei participar da reunião? Caso contrário eu o confinaria primeiro, certo?
         - Sim, mas...- Naomi pensou que as palavras do capitão soavam lógicas.
         - Em nenhum momento eu pensei em afastá-lo da missão, do nosso grupo ou da Frota Estelar.
         - Mas o senhor disse...
         - Eu apenas o notifiquei de algo que me mandaram dizer.
         - Eu não compreendo...- Naomi estava confusa. Pensou em sentar-se.
         - Fique à vontade, comandante. – Alkon leu seus pensamentos sem muito esforço. Naomi acabou se sentando.
         - Fique tranqüila. Já falei com o almirante Ross ainda há pouco. Salientei que seria importante termos um conselheiro militar klingon na nave. O mesmo parece estar ocorrendo em DS9. O capitão Sisko recrutou o comandante Worf para a mesma função. Na verdade, muitas naves gostariam de ter um klingon à bordo que fosse fiel à Federação e à Frota. Devo dizer que ele concordou. Ele apenas não assumirá o posto tático na ponte que ficará a cargo de Brixx. Mais tranqüila?
         - Sim, senhor. Permissão para falar livremente?
         - Fique à vontade.
         - Por que o senhor não comunicou isto tudo antes durante a reunião. Poderia dizer sobre as suas intenções e evitar um constrangimento desnecessário.
         - Não queria alimentar falsas esperanças antes de ter a confirmação do almirante ao meu pedido o que aconteceu a apenas poucos momentos antes de você entrar.
- Entendo. Desculpe-me. Vou comunicá-lo agora mesmo da sua decisão.
         - Faça isso e diga que nunca deixei de ter confiança nele.
         - Eu direi capitão. E...Capitão...Obrigada por também confiar em mim. – a tenente-comandante saiu contente da sala. Alkon estava cada vez mais à vontade em ser capitão. Continuou a tomar seu café com um sorriso no canto da boca.
        
 No dia seguinte...

         A USS Albedo estava totalmente operacional e todos os oficiais estavam em seus postos, inclusive Klag, quando McCormick chegou à ponte de comando acompanhado da nova imediato, a tenente-comandante Naomi Silva. McCormick ficara surpreso em ver o klingon ali, mas se lá estava é porque fora autorizado e ele não questionou. Assumiu o posto científico enquanto Naomi se dirigiu, temerosamente, a cadeira ao lado da do capitão. Ela sabia que o posto era provisório e não se sentia à altura do cargo, mas faria de tudo para exercer bem sua nova função. É bem verdade que preferiria continuar na sala de máquinas e passar a vez para McCormick ou até mesmo Klag. Entretanto tinha que seguir a hierarquia militar. Só esperava não demonstrar sua insegurança para os tripulantes. Procurou encarar aquele momento como mais um desafio em sua carreira.
         O capitão havia sido convocado pelo almirante Ross para uma última instrução, caberia então à ela dar a partida na nave.
         - Senhorita Saint-John...Liberar as amarras. Avisar o centro de controle de vôo da estação para abrir os portões da doca. Senhor Brixx...Relatório.
         Klag, ao lado dele, olhou-o com certa inveja. Suas posições haviam se invertido.
         - Todos os sistemas estão on-line e com cem por cento de eficiência. Teremos força de dobra à disposição em dez minutos. Dispositivo de camuflagem operacional.
         - Ótimo. Acionar a camuflagem assim que sairmos da base. O capitão irá nos encontrar mais tarde. Posicionar a nave a dois mil quilômetros da estação, longe do fluxo de naves, e parar os motores. Partiremos em uma hora.
         - Amarras liberadas. Caminho livre, senhora. – informou Allison.
         - Acionando camuflagem. – informou Brixx.
         - À frente a meio impulso. – acrescentava Allison.
         - Sensores informam apenas naves amigas nas proximidades. – informou McCormick ao olhar para a sua amiga, cumprimentando-a, com um leve aceno com a cabeça, pela sua performance na cadeira de comando. Ela agradeceu da mesma forma. Sabia que todos estavam orgulhosos dela e não iria decepcioná-los.

Interior da base 375...

         O capitão Dorian Alkon, vestindo seu uniforme negro com detalhes cinza do comando Nova, estava à espera da capitão Sobieski no escritório do almirante Ross. Também lá estavam o tenente Kobler, a comandante Bennett e o próprio almirante Ross. Não demorou muito e a capitã adentrou a sala.
         - Estou atrasada? – perguntou ao ver que estavam todos presentes e sérios demais.
         - Não, capitão. Estamos dentro do cronograma. – falou Bennett – Quero apresentá-la ao capitão Alkon. Capitão...Esta é Ilyana Sobieski, capitão da USS Protheus.
         - Prazer. Bonito uniforme. – disse ela estranhando o uniforme. Um que ela nunca vira antes.
         - É mais uma mortalha do que um uniforme. Algo que vesti para a ocasião. – diz Alkon descontraidamente.
         - O capitão é muito espirituoso, como a senhora pode ver. Talvez por ser um betazóide . – tentou justificar Bennett.
         - Todavia a missão de vocês não será nem um pouco engraçada. – disse o almirante Ross dando um tom mais sombrio à reunião – Vocês não podem falhar. Precisamos trazer o informante vivo custe o que custar. Entendido?
         - Sim, senhor. – responderam os dois capitães.
         - Capitão Sobieski dará apoio ao capitão Alkon e à sua tripulação. Ele está encarregado desta missão e você deverá reportar à ele, sem contestações. Esta é uma missão secreta. Nada poderá ser registrado nos diários de bordo. Oficialmente a USS Albedo ainda se encontra desaparecida. A Protheus está em um cruzeiro de teste, compreenderam? – perguntou o almirante Ross mais uma vez.
         - Sim senhor. – respondeu Sobieski junto com Alkon e ainda acrescentou – Meus oficiais superiores já foram informados do caráter secreto da missão. Estamos orgulhosos em sermos escolhidos para executá-la, senhor.
         - Muito bem. Aqui estão as suas ordens e os planos da missão. Leiam e memorizem. Depois destruam os dados. Após a incursão frustrada do Tal-Shiar e da Ordem Obsidiana ao planeta natal dos Fundadores o Dominion está em alerta total. Vocês têm uma semana para cumprirem a missão. Não haverá nenhuma missão de resgate. Comunicações sub-espaciais estão proibidas assim que chegarem ao quadrante gamma. Caso haja algum comunicado da tripulação para seus entes queridos entreguem a comandante Bennett que ela se encarregará de cumprir a última vontade de todos. – Ross estava com um discurso bem sinistro, contudo verdadeiro. Havia uma boa chance deles não voltarem vivos desta missão.
         Neste momento Alkon e Sobieski entregam pads com as mensagens pré-gravadas da tripulação.
         - Senhores...Boa sorte na missão e que Deus os proteja. A Frota Estelar tem orgulho de vocês. Dispensados. – diz Ross finalizando o encontro.
         Os capitães cumprimentam com uma continência e se retiram do escritório juntos.
         - O clima lá dentro estava pesado, não? – comenta Sobieski ao sair.
         - Muito. Mas não liga não. Eles são sempre assim. Muito dramáticos. Depois dizem que nós, betazóides, é que exageramos as coisas.
         - Você está nisso há muito tempo? Digo...Neste negócio de missão secreta...
         - Cerca de um ano.
         - Deve ser difícil para vocês. Ficar afastado de tudo, de todos e no final nem levar os créditos pelo sucesso.
         - Nossa recompensa é a manutenção da paz no universo.
         - É parece ser o bastante. – disse Sobieski concordando.
         Alkon acompanhou-a até a comporta de atracação onde estava a Protheus.
         - Eu vou até a sala de transporte. Nos veremos mais uma vez quando estivermos no último perímetro de segurança da comunicação. Siga o curso indicado e acredite, apesar de vocês não nos verem, estaremos lá.
         - Como assim...? Dispositivo de camuflagem?
         Alkon fica em silêncio. Apenas sorri confirmando a suposição da capitã.
         - Por que não deram uma pra gente também? – lamenta Sobieski.
         - Este é um segredo a mais que terá que guardar. Na verdade, para todos os efeitos a missão é de vocês. Uma nave com bom poder de fogo e velocidade. Serão a nossa distração. Enquanto estiverem preocupados com a sua presença não nos incomodarão. Mas advirto...Não entre em combate. Fuja e salve a sua tripulação. As táticas do Dominion não são nada convencionais. Seus cães de guerra, os Jem´Hadar são imprevisíveis e suicidas. Portanto não se arrisque sem necessidade.
         - Obrigado pelo conselho capitão. Temos os nossos trunfos na manga também.
         - O sistema multi-vetor?
         - Exatamente. Pensei que isso fosse um segredo.
Alkon sorri.
- Mas parece que você é o especialista em segredos. – conforma-se a capitão. - Bom...Espero poder apertar-lhe a mão novamente. – disse Sobieski estendendo-lhe a mão para se despedir.
         - Se tudo der certo o faremos em uma semana. E aí gostaria de ter o prazer em conhecer a sua nave. Até breve. – disse Alkon aceitando o cumprimento.
         - Será um prazer mostrá-la ao senhor. Até breve.       
Os dois capitães dirigem-se para as suas naves sem notar que, a uma certa distância, Timothy Barinni usava um amplificador sonoro e gravara toda a conversa. Ele sempre usava aquele dispositivo para captar conversas interessantes. É claro que isso era ilegal, mas eficiente para quem vive de informações.
         “UAU! Acho que temos alguma coisa grande acontecendo por aqui!” – pensou. Olhou de longe e viu sua família passeando pelo corredor da estação visitando algumas lojas que ainda estavam abertas. Pensou duas vezes no que estava prestes a fazer e em seguida esgueirou-se furtivamente até a comporta de atracação da Protheus, sem que ninguém o visse, para investigar melhor que missão secreta seria aquela. Sentia o cheiro de uma excelente matéria nascendo. Viu um conjunto de containers que seriam embarcados e se aventurou em entrar em um deles.

         Elizabeth Barinni estava com seus filhos, o sobrinho de Zarc Omala e a segurança Kobliad passeando pela estação até que notou que Timothy não estava ao seu lado. Vez por outra o procurava entre os transeuntes da estação, mas não mais o vira. Liz deduziu que demoraria muito tempo para vê-lo novamente. Timothy Barinni, o repórter, estava em ação novamente.

FRENTE DE BATALHA 2 - FAZENDO LINGUIÇAS - 7

FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Fazendo Linguiças – Parte II da Trilogia.
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma.
Por Marcos De Chiara




                  PARTE SETE

       A viagem na USS Protheus estava calma e fascinante. Timothy Barinni só havia ido ao espaço duas vezes na vida. A primeira foi quando tinha doze anos em uma excursão escolar de História. Tratava-se de uma viagem à Lua para aprenderem sobre exploração espacial. A segunda foi em lua de mel em um cruzeiro até Altair. Depois disso nunca mais saiu da Terra e julgava não precisar já que tinha acesso a todos os cantos do espaço através do milagre das telecomunicações e de seus contatos dentro da Frota Estelar. Mas o real motivo era que Timothy sofria de enjôo espacial. Um bom motivo para ficar na Terra.
      Observava o espaço através de uma escotilha do observatório quando foi abordado pela capitã Sobieski.
         - Você deve ser o Sr. Barinni...Procurando material para a sua reportagem?
      - Oh, olá capitã. – cumprimentou ao observar o distintivo da patente daquela mulher alta e morena – Muito prazer. Eu apenas me perguntava como é que se sabe se estamos de cabeça para cima ou de cabeça para baixo.
        - Não sabemos. A graça está aí. – brincou a capitã. – Desculpe não tê-lo recebido antes. Estava muito atarefada com os procedimentos de partida. Sabe como é...Nave nova, cuidados extremos.
       - Não tem importância, capitã. Eu compreendo. O seu primeiro oficial, o senhor Ian O ´Malley, foi muito atencioso.
       - Se ele não fosse iria se ver comigo. – disse ela em tom de brincadeira – Espero que estejam bem acomodados. Infelizmente não poderei providenciar um tour pela nave por questão de segurança, mas se o senhor ou sua família ficarem entediados sugiro uma visita a um dos holodecks da nave. Temos programas interessantes. Poderão até fazer um piquenique por lá! Por falar nisso onde estão a sua mulher e filhos?
        - Em um piquenique no holodeck três. – sorri Barinni com certo constrangimento.
       - Ah, sei... – a capitão também fica um pouco desconfortável com a resposta.
       - Não leve a mal, capitão. Não é nada pessoal com a sua nave. Na verdade ficamos muito impressionados com ela desde quando a vimos na doca espacial. É uma classe nova, um novo design e dizem que possui uma arma secreta contra os inimigos.
         - Isto é uma entrevista?
     - Desculpe. É a força do hábito. Sei que é um projeto novo do corpo de engenheiros da Frota e que nem deveríamos estar aqui. Só fiquei curioso.
        - Quem não ficaria? Ainda mais um repórter com a sua reputação. Só aconselho para se manter nas áreas de circulação livre e não teremos problemas. Quanto a sua presença aqui agradeça ao almirante Toddman e aos Médicos Sem Fronteiras, a instituição na qual a sua mulher trabalha. De outra forma nenhum civil subiria à bordo no estado político atual. Mas o senhor ainda não me disse por que estava aqui sozinho no observatório.
       - Enjôo espacial. Infelizmente quem projetou os holodecks esqueceu de colocar banheiros neles.
       - Compreendo. Seria uma boa sugestão para o corpo de engenheiros da Frota. Ou poderia dar uma boa reportagem para a INN.
- “A falta de banheiros em naves estelares!” -  brinca Barinni com uma fictícia manchete.
A capitão ri da piada. – Quanto ao seu enjôo creio que o nosso médico poderia lhe receitar alguma coisa.
     - Passarei na enfermaria assim que o meu piquenique acabar. Acho melhor ir andando antes que minha mulher fique preocupada com a minha demora.
       - É muito sensato de sua parte. Avise-os que estão todos convidados para o jantar no salão dos oficiais esta noite. Nove horas está bem?
       - Oh, claro capitão. Para mim está ótimo. Avisarei. Obrigado pelo convite. Até mais então. – Barinni sai do observatório apressadamente.
        A capitão Sobieski observou o repórter até ele sair. Algo dizia que teria problemas durante a viagem. Um homem como ele era irrequieto demais para ficar apenas em alojamento – refeitório – holodeck. Precisaria avisar a segurança da nave para ficar de o olho nele.
         Timothy Barinni  sabia que a capitão ficaria de olho nele. Se ele fosse ela ficaria. Ele era um homem de ação. Não ficaria toda a viagem fazendo piqueniques. Quando ouvia a palavra “proibido” sua veia jornalística saltava. O problema era comprometer a sua família. Quando estava perto deles não se sentia à vontade para fazer o seu trabalho. Mas como a sua mulher lhe disse antes de partir...”Esta será uma boa oportunidade para aprender algo sobre convivência familiar”.
         Ao retornar para o holodeck  adentrou em uma paisagem de um bosque tranqüilo com canto de pássaros e um pequeno lago onde patos eram alimentados com miolo de pão pelos seus dois filhos. Deitada sobre uma toalha xadrez estava sua esposa repousando, alheia às estripulias de seus rebentos. Timothy aproximou-se devagar, ajoelhou-se próximo à ela e a beijou na testa. Liz abriu os olhos.
         - Oh....Meu príncipe retornou...- disse ela quase num murmúrio.
         - Oi princesa. Os garotos se comportaram?
         - Eles estão amando. Por que demorou ? Você está melhor ?
         - Sim, um pouco. Estive dando umas voltas por aí.
         - Lembre-se do que o imediato falou. Andar somente nas áreas permitidas. Se te pegam em algum lugar não permitido vai passar o resto da viagem em confinamento e adeus reportagem.
         - Já pegaram. Ou melhor... Quase. Encontrei-me com a capitão. Na verdade ela me encontrou.
         - Oh Deus, Tim...Você não estava fazendo nada errado, não é? – Liz sentou-se sobressaltada com a confissão do marido.
         - Não, claro que não. Acalme-se. Ela apenas advertiu-me em não pensar em meter o nariz onde não sou chamado. E depois nos convidou para jantar. Na verdade foi quase uma ordem. Ela parece ser uma mulher durona, porém simpática. Intrigante, não?
         - Será que preciso ir com alguma roupa especial? Eu não trouxe nada de gala.
         - Qualquer coisa poderemos pedir pelo sintetizador. Mas acredito que o traje seja formal. Está gostando da viagem ? – Barinni muda de assunto.
        - O holodeck faz nossos sonhos quase virarem uma realidade. É o que tem me distraído e às crianças nestes dois dias de viagem. Eu poderia passar o resto da vida aqui. Tudo é tão calmo...Tão perfeito... – comenta Liz.
         - Eu também poderia ficar por aqui um bom tempo.
      - Sério? Estou te estranhando. Computador. Informe quantos humanos estão dentro do holodeck neste momento.
         <Quatro seres humanos estão presentes.>
         - Muito engraçado, Liz. – Barinni não gostou muito da brincadeira.
        - Desculpe, amor. Mas tinha que me certificar. – Ela o abraçou e beijou-lhe a nuca – Afinal você ficar relaxando em uma paisagem bucólica não é de sua natureza. Admita.
      - Você está certa. Na verdade estou ansioso para chegarmos logo. Não consigo ficar muito tempo sem ter o que fazer. Além do mais ainda me sinto culpado por ter arrastado vocês para a minha loucura.
      - Ei! A loucura foi nossa. Eu concordei com isso. Estou até atuando pelos Médicos Sem Fronteiras! Deus sabe que precisava voltar a trabalhar. É uma grande oportunidade e responsabilidade. Não exerço a medicina desde quando engravidei do Michael. E agora terei a chance de provar para mim mesma que ainda sou capaz. – ela percebia o desconforto de seu marido – Querido... Eu também me sinto culpada por trazer nossos filhos para uma zona de guerra, mas como você mesmo disse, a verdade precisa ser contada. Eu estou aqui porque quero fazer a minha parte.
         - Nós somos loucos e egoístas. Talvez devamos pegar o primeiro vôo de volta à Terra quando chegarmos à base 375.
        - Chegamos longe demais para dar pra trás agora. Somos uma família e juramos ficar juntos na alegria e na tristeza. Nos tempos fáceis e difíceis, lembra-se?
       - Só penso se é justo com eles... – diz Barinni se referindo aos seus filhos que estavam brincando a beira do lago.
     - Ei...Somos uma família. Eles também fazem parte dela. Afinal quem poderia protegê-los melhor além de nós mesmos?
       - A Kobliad que Omala enviou? – brinca Barinni.
        
       Liz ri. A segurança pessoal era de uma espécie pouco amigável, mas extremamente cuidadosa e cumpridora contumaz de seus contratos. Havia sido contratada para tomar conta do sobrinho de Omala e assim estava fazendo desde que vieram à bordo. Não o deixava nem por um segundo. A família Barinni era um sub-contrato que daria atenção no momento necessário. Assumira que a Frota estava suprindo a segurança necessária até chegarem ao sistema bajoriano.
       - Por falar nisso onde eles estão? – perguntou Liz.
      - Confinados no alojamento. A Kobliad não acha seguro ele ficar circulando pela nave.
      - Pelo menos está fazendo jus ao que seu chefe está pagando. -  Agora era a vez de Liz mudar de assunto. -  Então quais são seus planos?
      - Se te contar terei que te matar. – brincou Barinni insinuando que não podia revelar nada sobre o que estava pretendendo fazer.
       - Fale sério... – clamou sua esposa.
      - Na verdade eu ainda não sei. Espero ter alguns insights quando chegarmos. Vou esperar os acontecimentos  se desenrolarem e documentá-los.
     - Não se preocupe. Tudo vai dar certo. – disse Liz abraçando-o. – Podemos conseguir muita coisas com essa viagem. Pra começar estamos sendo uma família de novo.
      - Nós nunca deixamos de ser. – protestou Barinni.
   - Lá vamos nós de novo...- reclamou Liz antevendo um início de uma nova discussão.
      - Eu nunca quis deixá-los fora da minha vida.
      - Mas acabava deixando mesmo assim.
      - Isto não é verdade. – Barinni não queria admitir seu erro.
      - Eu não quero brigar. Não podemos simplesmente ficar aqui quietinhos respirando o ar puro? – suplica Liz.
     - Liz... Eu nunca quis magoar você ou os meninos. As minhas ausências eram por causa do meu temperamento hiperativo. Sou movido a desafios. Quando vejo uma história que deva ser contada eu esqueço do resto.
     - Eu sei. Mas desta vez será diferente. Você tem a mim e aos garotos. – De repente Liz para e um pensamento lhe vem à tona. – É por causa disso o seu desconforto? O enjôo espacial? Você está preocupado com a nossa segurança e com medo de não poder fazer o seu trabalho?
     - Em parte talvez seja verdade.
    - Então eu e as crianças somos um fardo para você. – Liz se levanta aborrecida. – Por que então insistiu para que viéssemos?
    - Eu queria...Eu quero dar uma chance para nós. Ei, você não tinha acabado de dizer que não queria brigar?
    - Timothy Barinni você é incorrigível! – sorri Liz ainda enxugando algumas lágrimas do rosto. Timothy se aproxima e a abraça.
    - Não quero deixá-la triste ou aborrecida. É que só de pensar que teremos que ficar três semanas nesta nave está me deixando...
    - Louco? – completa ela.
    - Desconfortável. – corrige ele.
   - Um bom eufemismo...Em breve você estará trabalhando e ficará bem. Enquanto isso você terá a mim e aos meninos. Há muito tempo que não temos um tempo para a família. Venho esperando por isso há pelo menos cinco anos e não quero desperdiçar nenhum minuto. – ela o beija selando a paz.
   - Você está certa. Eu reconheço que não tenho sido justo com você e com as crianças ultimamente. Não vou fazer falsas promessas, mas vou me esforçar em não pensar tanto no trabalho. Na verdade é  em vocês que eu penso o tempo todo quando estou fora fazendo as minhas reportagens. É de vocês que retiro forças para continuar fazendo o que eu faço.
  - Oh, Tim... – Liz fica emocionada com a declaração do marido e o beija ardorosamente. Contudo a cena romântica é interrompida com a aproximação dos seus filhos aos berros.
  - Pai! Pai! Encontramos uma caverna! Vamos explorá-la? – disse o pequeno e curioso Michael.
  - Uma caverna? Que legal! Me mostra onde é. –  Um sorridente Timothy Barinni é levado pelas pequenas mãos de seus filhos para longe de sua esposa e de sua crise existencial.

   Liz observa o entardecer artificial e seu marido brincando com os filhos. Gostaria de congelar aquela cena para sempre. Infelizmente a vida real não podia ser programada.

sábado, 30 de julho de 2016

FRENTE DE BATALHA 2 - FAZENDO LINGUIÇAS - 6



FRENTE DE BATALHA A TRILOGIA
Fazendo Linguiças – Parte II da Trilogia.
As aventuras do Capitão Dorian Alkon na linha de frente do Quadrante Gamma.
Por Marcos De Chiara

PARTE SEIS

          
USS Albedo
Doca Interna -  Base 375

Klag estava em seus aposentos usando um terminal de computador. Lia uma mensagem que lhe fora enviada secretamente, pois, para todos os efeitos, ele não mais existia. Contudo ele precisava saber como estavam seus parentes em Q´NoS. Sobretudo ele precisava confirmar o quão era verdadeira a visão que tivera em seu ritual de Maj´Qa do ano passado.[1] Pela cara que fazia não estava gostando nada do que estava lendo. De repente a campainha do seu alojamento tocou. Não podia imaginar quem poderia ser àquela hora. Certificou-se em apagar a mensagem e desligar o monitor. Ajeitou o seu robe apertando bem a faixa em sua cintura, caminhou até a porta e abriu-a. Era a tenente Allison Saint-John com uma fisionomia preocupada.
- Oi Grandão. Posso entrar? – disse ela amigavelmente.
Klag não gostava que o chamassem por apelidos. Na verdade ele não era dado a intimidades com qualquer tripulante à bordo. Todavia permitia esta liberdade à Allison porque passou a considerá-la como amiga e por estar em dívida de honra com ela por não ter conseguido protegê-la devidamente quando estiveram juntos em sua primeira missão.[2] Vez por outra Allison procurava se aconselhar com ele. Parecia que ela o via como um guerreiro experiente e capaz de dar bons conselhos. Ele havia sido a primeira pessoa que ela tivera contato quando há dois anos atrás foram comissionados na USS Babel e desde então se tornaram amigos. Na verdade ele poderia dizer que ela era a sua única amiga à bordo. Os outros eles simplesmente respeitava como companheiros de farda.
- Está meio tarde, tenente, o que quer? – disse ele em meio a um grunhido de insatisfação.
- Você é tão receptivo... – ironizou a jovem – Estou sem sono e preciso conversar com alguém.
- Creio que o tenente McCormick seria todo ouvidos. – disse se referindo a relação que havia entre os dois.
Allison sorriu e o encarou como se estivesse dizendo com os olhos: “Você vai me deixar entrar ou não?”
- Entre. – disse ele finalmente desobstruindo a porta. Allison passou por ele cabisbaixa. Enrolou o cabelo e ficou parada olhando ao seu redor. Os alojamentos da Albedo não eram tão grandes quanto o da classe Akira ou de uma classe Galaxy, mas eram confortáveis. Pelo menos os dos oficiais superiores. Consistia em uma pequena saleta com duas poltronas, um pequeno sofá, uma mesa com duas cadeiras para fazer as refeições, com um sintetizador de alimentos na parede e um quarto contíguo que era uma suíte. Neste havia uma cama, um pequeno armário embutido, uma bancada com uma cadeira e um monitor .
A jovem tenente ainda tentava buscar as palavras certas para iniciar a conversa.
Klag postou-se a sua frente e procurou iniciar um diálogo.
- Para quem queria conversar você está muito calada.
- É que eu não sei por onde começar.
- Escute, tenente...Eu não sou um bom ouvinte nem conselheiro. Talvez fosse melhor procurar a doutora T´Vel.
- Não. Ela também não serve. Preciso do ponto de vista klingon.
- Bom, neste caso parece que sou o mais indicado. – Klag era o único klingon à bordo da nave. – Sente-se. – convidou-a sem ter outra alternativa.
- Obrigada.
Klag sentou-se na poltrona à sua frente e perguntou:
- Do que se trata?
- É sobre esta missão para a qual estão nos preparando. Estou um pouco apreensiva quanto à ela.
- Até onde eu sei , ela foi cancelada.
- Zagar escutou que nos mandarão mesmo assim. Temo ser uma armadilha preparada pelo Dominion. Acho que estou ficando meio paranóica.
O jovem elaysiano oficial de comunicações deveria ser transferido para a inteligência da Frota. Daria um ótimo espião.
- Quando ele escutou isso? – perguntou curioso.
- Não sei, mas se for verdade, o que faremos?
- Executaremos a missão conforme fomos treinados. – respondeu com firmeza. Porém Klag não sentiu confiança na jovem. Resolveu que deveria encorajá-la.
- Você é uma oficial treinada. O seu rendimento no simulador foi satisfatório. Não há o que temer.
- Você diz isso porque tem alma de guerreiro. Eu não. Eu gosto de pilotar naves. É o que sei fazer de melhor. Não me sinto bem atirando em outros seres vivos. Eu respeito a vida. Seja de quem for. Eu queria saber de você como é possível não se importar com as vidas de quem você irá destruir ?
Klag notou a visão errada que sua colega possuía dele e da cultura klingon.
- Tenente...Um guerreiro klingon valoriza a vida de seu oponente. Se, em batalha, ele tiver que tomar a sua vida, isto será um privilégio para ele. Não há honra em matar fracos ou inocentes. Se um guerreiro tiver que matar alguém, este será um outro guerreiro que, por sua vez, está disposto a morrer para defender  sua posição ou seu ideal.
- Então é só eu pensar que o cara está lá para me matar, então agirei em legítima defesa, é isso? Parece ser uma boa desculpa. Oh, meu Deus! Não sei se serei capaz... – Allison abaixa a cabeça e esconde a face entre as mãos.
- Você nunca matou ninguém em combate corpo-a-corpo, não é mesmo?
- Bom...Você sabe...Já estive em batalhas antes...Como a do ano passado, mas não é a mesma coisa. Eu estava em uma nave e... – ela fez uma pausa – Não. Nunca. – respondeu finalmente.
- Se você está insegura eu posso falar com o capitão e ...
- Não, não. Não quero decepcioná-lo. Ele já se arriscou tanto por nós.
- O caso é que você poderá colocar a missão em risco. Se hesitar no campo de batalha isto comprometerá a vida de um companheiro. Por acaso não está assim por causa do seu relacionamento com o tenente McCormick está? – perguntou Klag sem temer em ser indiscreto.
- Não. Eu sei que ele sabe se cuidar. Desculpe ter incomodado. – diz ela se levantando – Devo estar com TPB.
- TPB? – Klag não entendera do que a tenente estava falando.
- Tensão pré-batalha. Talvez você esteja certo. Acho melhor procurar a doutora T´Vel. Talvez ela possa me dar alguma coisa...
- Coragem não vem em hiposprays. Você terá que consegui-la de dentro de você mesmo. – ponderou Klag.
Allison sorriu e abraçou o amigo. Tal atitude surpreendeu o aparente insensível klingon.
- Sabe Klag eu o considero um amigo e sua opinião é muito importante para mim, você sabe. Obrigada pelos conselhos. Vou refletir sobre tudo que me disse. Sei que para ser uma guerreira eu vou precisar querer ser uma. Vai ser difícil, mas vou tentar. – Allison caminhou até a porta e parou quando ela abriu. Respirou fundo, hesitou por um momento, mas acabou seguindo o caminho de volta à sua cabine.
Klag ficou satisfeito em saber o quanto Allison o considerava. Era mais um laço que o prendia àquela nave e àquelas pessoas. Isto talvez o distanciasse mais ainda de seu planeta natal e de Lurga, seu amor.


Alkon estava sozinho na ponte da Albedo tomando uma xícara de café e olhando para a tela principal desligada quando a doutora T´Vel apareceu. Alkon a cumprimentou sem sequer olhar para ela.
- Olá doutora. Está sem sono também?
- Vejo que suas habilidades psi estão se desenvolvendo. Estava à sua procura...
- Para saber como estou me portando quanto ao progresso de Sarah.
- Prefere continuar a conversa por telepatia? Creio que possa fazê-lo apesar de não praticar a algum tempo. – disse a doutora com certa ironia ao perceber que havia sido invadida mentalmente. Isto era uma grande ofensa para os vulcanos.
- Desculpe a amargura. Não pretendia ler seus pensamentos. É que às vezes eles me são tão audíveis que é impossível bloqueá-los. Principalmente sem a medicação que eu tomava. Estou preocupado com a missão.
- Como já sabe eu, ao contrário, não estou preocupada com isso agora. É sobre o seu comportamento para com a comandante que eu vim discutir. Por que você sempre arranja uma desculpa para não vê-la e quando está com ela arranja outra para ir embora o mais rápido possível? – T´Vel se sentou na cadeira de comando ao seu lado.
Alkon achava que ninguém perceberia isto. É claro que ele subestimara o poder de percepção da doutora.
- Eu olho para ela e não vejo mais a minha Sarah. Ela é uma estranha para mim. É muito doloroso perceber que o que tínhamos juntos...Acabou.
- Não, não acabou. O amor que vocês sentem um pelo outro ainda está lá no fundo da mente dela. Algum dia ele irá reaparecer.
Alkon levantou-se e caminhou pela ponte, olhou alguns instrumentos e por fim encarou a doutora.
- Quando? – perguntou o capitão.
- Impossível precisar. Eu e o doutor acreditamos que ela poderá recompor os seus engrams perdidos. A terapia neuronal que desenvolvemos está recuperando antigas conexões a cada dia. Pelo menos a maioria delas. Levará algum tempo, é claro, mas a nossa Sarah Okaido reaparecerá.
- Que os deuses assim queiram! – diz Alkon com alguma esperança..
- Quanto ao amor de vocês dois... Se a chama não for alimentada ela se apagará. – diz a doutora taxativamente.
- Talvez. Mas no momento prefiro ficar um pouco afastado.
- Não creio que seja a melhor estratégia. – pondera a doutora.
- Será menos doloroso. No início eu achei que poderia suportar a indiferença dela para comigo, mas ainda me incomoda muito. Além do mais preciso me concentrar na missão. Eu ficarei na retaguarda monitorando as equipes quando gostaria de estar com eles.
- A angústia é muito comum nessa situação. Lembre-se que você está emocionalmente mais sensível desde a retirada de seu supressor químico. Suas emoções demorarão a se estabilizar, contudo você deve evitar se isolar. Você só conseguirá uma gastrite com isso.
- Uma gastrite é o menor dos meus problemas agora. Estou preste a enviar os meus melhores oficiais em uma missão que pode ser suicida. A incerteza do que pode acontecer não é algo que me agrade.
- Estas pessoas que você enviará... Você têm alguma dúvida sobre a capacidade deles?
- O time ouro e prata foram formados por Sarah e Klag. Eles são os melhores. Sei bem do que eles são capazes. O que me incomoda é não conhecer assim tão bem o inimigo.
- Quando eles irão?
- Daqui a três dias. Os treinamentos acabaram. Uma nave estará vindo para cá a fim de nos dar suporte na missão. Me disseram que é uma nave de combate experimental, a USS Protheus. Assim que ela aportar e se abastecer partiremos para o quadrante gamma. Isto é confidencial. Só informarei a todos sobre a missão um dia antes.
- Pode deixar capitão. Sei manter segredo. Então mandarão uma escolta, hein?  O alto comando está esperando um grande perigo desta vez.
- Estamos sempre em perigo quando se trata do Dominion. Afinal estaremos “brincando no seu quintal” sem sermos convidados. Ainda tem a questão que os klingons voltaram atrás do tratado de Khitomer e os cardassianos podem estar se alinhando para o Dominion para se protegerem dos klingons.
- Parece ser a solução mais lógica para eles. Se isto vier a ocorrer Bajor e a Federação terão problemas.
- As coisas irão ferver por aqui, isto é certo. O comando da Frota acha que este informante misterioso que teremos que resgatar possui informações cruciais  que poderão nos ajudar a montar uma melhor defesa e evitar o avanço das forças do Dominion.
- É. Isto tudo é um bom motivo para uma gastrite. Vamos torcer  para que logremos sucesso. Mas não se esqueça de sua outra missão. – disse procurando relembrar o capitão de seu compromisso com Sarah – Boa noite, capitão. – T´Vel deixou a ponte.
Alkon terminou de beber o seu chá enquanto pensava no que a doutora lhe dissera. Voltou a fitar a tela principal e a tentar alcançar a mente de Sarah. Pôde vê-la dormindo em seus aposentos, mas parecia haver um muro bloqueando o seu elo telepático. Estava inseguro quanto a expressar seus sentimentos. Já fora difícil da primeira vez e não estava sendo mais fácil agora. Como poderia fazê-la acreditar novamente em seu amor?
Levantou-se e deixou sua xícara sobre o console de navegação antes de pegar o turbo elevador para ir ao seu alojamento. Durante o caminho não conseguia parar de pensar em Sarah. Ao chegar em sua cabine retirou seu uniforme e se dirigiu para o banheiro para tomar uma ducha. Enquanto se banhava a única imagem que lhe vinha à mente era a do rosto de Sarah. Ele não conseguia evitar. Era a sua obsessão. E ela estava atrapalhando os seus deveres como capitão. Tinha que se concentrar na missão. Ela deveria ser sua real e única preocupação. Isto estava dando uma dor de cabeça danada.
Saiu do banho, secou-se e vestiu o seu roupão. Caminhou até o sintetizador e pediu um leite quente. Isto o ajudaria a dormir uma vez que os calmantes estavam proibidos, pois afetavam o seu parato-córtex e conseqüentemente suas habilidades psíquicas.
Sentou-se no chão, próximo a sua cama, e começou a exercitar uma técnica de relaxamento mental que T´Vel o ensinava. Aos poucos a imagem de Sarah na sua mente foi substituída por um céu límpido e claro, depois uma praia, um campo florido e por fim a quietude do espaço iluminado por estrelas distantes. O sono foi dominando o seu corpo e acabou adormecendo ali mesmo onde estava.
Não muito longe dali, na cabine de Sarah, entre um murmúrio e outro sob a coberta, ela dizia : Dorian...Dorian...Dorian...



[1] Fato ocorrido em Frente de Batalha I – Mudando as Regras; escrito pelo autor.
[2] Fato ocorrido em O Vento que bate na janela; escrito pelo autor.